A importância dos congressos
OS CONGRESSOS
As conferências ou congressos científicos são parte fundamental das interações profissionais e sociais de quem trabalha em um ramo específico da ciência. São um encontro de pessoas onde são apresentadas as últimas novidades e avanços em um determinado tema. Eles duram vários dias, nos quais há palestras de pesquisadores referentes, bem como palestras curtas, seminários, sessões de pôsteres, cursos de curta duração e outras atividades. Nos congressos você interage com professores, bolsistas pós-doutorais, estudantes de graduação e pós-graduação, profissionais e demais pessoas interessadas no assunto do congresso.
Fotos cortesia de Alfredo Peretti
Os congressos são importantes para apresentar sua pesquisa, interagir com cientistas, formar links colaborativos e manter-se atualizado com novas descobertas e métodos de pesquisa. Para nós da RAEL, os congressos têm sido um espaço vital para nosso desenvolvimento profissional, pois nos aproximam de oportunidades de estudo, colaborações e trabalho em nossos países ou no exterior. Curiosamente, o RAEL foi formado após o Congresso Latino-Americano de Aracnologia em Buenos Aires, Argentina em 2020!
NOSSO PAINEL VIRTUAL
Poder participar de um congresso, preparar e apresentar seus resultados, ou obter financiamento para participar de um congresso não são tarefas fáceis. Na RAEL queremos ajudá-los neste processo, e na quinta-feira, 28 de abril de 2022, a Comissão de Desenvolvimento Profissional organizou uma conversa virtual com os objetivos de (1) apresentar o panorama das conferências científicas à comunidade RAEL, e (2) anunciar as próximas conferências internacionais de aracnologia baseadas na América Latina.
Tivemos três apresentadores:
Mariana Trillo (Instituto de Pesquisa Biológica Clemente Estable e Faculdade de Ciências, Universidade da República, Uruguai)
Ligia Benavides (Harvard University e Utah State University, Estados Unidos)
Alfredo Peretti (Laboratório de Biologia Reprodutiva e Evolução [LABRE], Universidade Nacional de Córdoba, e CONICET, Argentina.).
Por parte da RAEL, o evento foi moderado por Laura Segura, Franco Cargnelutti, Ignacio Escalante e Ivan Magalhães.
31 pessoas de 10 países diferentes participaram do evento. Destes, 49% se identificaram como estudantes de pós-graduação, 24% como estudantes do ensino médio/graduação, 14% como profissionais, 8% como pós-doutorandos e 5% como professores. Você pode conferir o vídeo completo do evento em nosso canal do YouTube. Abaixo, resumimos os tópicos abordados e damos sugestões que esperamos que sejam úteis ao participar de conferências. Claro, vamos dar ênfase aos congressos voltados ao estudo dos aracnídeos.
BENEFÍCIOS DE PARTICIPAR DE CONGRESSOS
Benefícios acadêmicos. Os congressos são ideais para conhecer as últimas descobertas em um determinado campo do conhecimento científico, bem como conhecer as pessoas que lideram esses campos. Por sua vez, eles são o ambiente perfeito para aprender metodologias que você pode aplicar em sua pesquisa.
Nos congressos você também receberá sugestões para seus projetos atuais e futuros. Portanto, é bom ir com a mente aberta. Em nossa experiência, tivemos conversas muito produtivas em conferências que melhoraram substancialmente nossos projetos e publicações.
Benefícios profissionais. Além do conhecimento que você adquire, ir a uma conferência e participar apresentando um pôster ou dando uma palestra é uma conquista por si só, que muitas vezes conta no seu currículo. Os congressos -especialmente na América Latina- costumam emitir um certificado ou diploma.
Então, ter participado de conferências é avaliado e pode 'dar pontos a favor' durante o processo de solicitação de bolsa, pós-graduação, emprego, etc. Dependendo do tipo de aplicação que você faz, pode ser importante ter participado de conferências em diferentes áreas. Por exemplo, se você se candidata a uma pós-graduação em ecologia, é bom ir a congressos sobre esse assunto, em vez de ter participado apenas de congressos de zoologia. No entanto, isso varia muito dependendo do tipo de bolsa/emprego para o qual você está se candidatando.
Quer fazer uma pós-graduação no exterior? Quer fazer um estágio em outro país? Quer candidatar-se a uma bolsa para financiar um projeto de investigação? Congressos podem ser bons pontos de partida para essas oportunidades, e conversar com as pessoas de lá pode dar pistas. Como dica, você pode dizer explicitamente a ele o que está procurando nessas oportunidades.
Beneficios sociais. Durante essa semana há muita interação social, principalmente nas sessões de pôsteres, antes e depois das palestras, nos eventos sociais, almoços, jantares, etc. Esses eventos de socialização nos permitem conhecer pessoalmente -e conversar com os autores de várias investigações. O que ajuda a 'desmistificar' e 'humanizar' os artigos científicos. Conhecer pesquisadores que atuam em áreas que nos interessam costuma ser fácil. As pessoas estão dispostas a conversar, então você pode se apresentar. Outra opção, se você for mais tímido, é pedir a um professor ou outro aluno que o apresente aos colegas.
DESAFIOS PARA PARTICIPAR DE CONGRESSOS
Financiamento. Congressos são eventos que podem se tornar caros, principalmente para estudantes, limitando - infelizmente - sua participação. No entanto, existem muitas fontes de financiamento que ajudam a cobrir os custos. Geralmente, a comissão organizadora do evento se esforça para saber como dar esse apoio. Eles podem até sugerir várias fontes de financiamento. Às vezes, existem fontes dentro de sua instituição (universidade, museu, etc.), ou entidades nacionais, estaduais ou regionais que podem ajudar. Deve-se notar que geralmente é necessário que você seja o autor de um pôster ou apresentação oral para solicitar financiamento. No RAEL temos uma tabela com potenciais bolsas (veja aqui).
Idioma. Às vezes, os congressos são em outro idioma que não o seu idioma nativo. Mas isso não precisa ser um obstáculo. Os congressos estão se tornando cada vez mais globais e mais amigáveis a outros idiomas. Por sua vez, os participantes costumam ter muita paciência se você tiver dificuldades de comunicação, ajudando você a superar essa barreira.
INCLUSÃO EM CONGRESSOS
Viéses e assédio. Os preconceitos e viéses existem nos congressos e não podemos negá-los. Eles podem ser vistos refletidos, por exemplo, na seleção de palestrantes, ou que recebem bolsas para participar. Preconceitos de gênero conscientes e inconscientes ainda são, infelizmente, prevalentes nas avaliações científicas, por exemplo, manuscritos de autoria de mulheres são mais frequentemente rejeitados e menos propensos a serem publicados em comparação com os de homens, bem como avaliações de alunas em comparação com alunos, avaliações de professoras e professores.
Por sua vez, também há desigualdades em quem pode pagar e participar de congressos e ter mais tempo para ir a esses eventos, já que muitos congressos internacionais são caros, mesmo os virtuais que cobram taxas menores, a taxa de conversão, por exemplo, do câmbio de dólares ou euros para moedas latino-americanas é alto e muitas vezes impraticável.
Países da America Latina investem significativamente menos na ciência que países mais desenvolvidos, consequentemente cientistas sediados na America Latina têm menos acesso a oportunidades de financiamento científico e orçamentos menores do que em outros países. Além disso, participar de congressos internacionais demanda passaporte e muitas vezes uma solicitação de visto, processos que correspondem a longos formulários, entrevistas, comprovantes e pagamentos de taxas consulares. Os pedidos de visto podem ser difíceis, por exemplo, as entrevistas costumam ser na língua oficial do lugar/visto solicitado, muitas vezes a aceitação do resumo no congresso pode ajudar na entrevista, mas essa própria aprovação de resumos em congressos muitas vezes é lenta e não chega a tempo da entrevista e, ainda assim, não há garantia que o visto seja aceito por conta disso ou que o portador do visto tenha permissão de entrada quando viajar. Todos esses fatores consomem tempo e sobregarregam ainda mais o emocional e financeiro do cientista na America Latina.
Pais cientistas, especialmente as mães cientistas, quando precisam levar seus filhos em congressos normalmente não encontram apoio da organização de congressos, seja por descontos, apoio de local/creche que as crianças possam ser cuidadas para que os responsáveis possam assitir a programação científica, restaurantes kid friendly, entre outros espaços.
Mulheres e cientistas que são LGBTQIA+ são muitas vezes marginalizados e assediados, sendo necessário conscientização, normas e penalizações rigorosas contra qualquer violência especialmente contra a comunidade sub-representada.
Em congressos fora da America Latina, dificuldades culturais exarcebadas por dificuldades linguísticas podem resultar em experiências estressantes, não enriquecedoras, sentimento de não pertencimento. Esses exemplos, entre outras atividades, podem perpetuar viéses de gênero, raça ou socioeconômicos, principalmente na América Latina e, essas barreiras enfrentadas têm infelizmente um efeito cumulativo na carreira. Juntamente com outros processos na ciência, alguns comitês organizadores de congressos estão levando esses problemas em consideração e tentando reduzir esses viéses e limitações.
PRESENCIAL OU VIRTUAL? CONGRESSOS E PANDEMIA
Em termos de benefícios, as conferências totalmente virtuais durante 2020 e 2021 aumentaram a participação de pessoas, principalmente de outros países e regiões - assim como pessoas - com maiores limitações econômicas ou compromissos familiares. Além disso, os congressos virtuais reduzem a pegada de carbono dos participantes por não precisarem viajar, sendo uma opção mais sustentável. A virtualidade também possibilitou a participação em 'novas' conferências. No RAEL pudemos participar pela primeira vez do Congresso de Biologia Evolutiva, Aracnologia Europeia e da Sociedade de Comportamento Animal, entre outros.
Apesar dos benefícios gerais, a dinâmica das conferências virtuais teve algumas desvantagens. Principalmente a perda da componente social e informal das conversas e interações entre os participantes. Os participantes da conferência também perderam a oportunidade de conhecer diferentes cidades ou países. Outra desvantagem foi o aumento do número de horas necessárias para passar na frente de uma tela, já que tudo acontece pela internet.
Atualmente (meados de 2022), os comitês organizadores da conferência estão oferecendo a oportunidade de participar virtualmente ou pessoalmente. Os congressos híbridos são uma boa opção para equilibrar as vantagens e desvantagens de cada modalidade.
Abaixo você encontra algumas publicações na internet e artigos científicos que propõem as vantagens das conferências virtuais sobre as presenciais. Se você deseja ler algum desses artigos mas não tem acesso, entre em contato conosco:
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Benefits of virtual conferences for ecology and conservation research
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Benefits of permanent adoption of virtual conferences for conservation science
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Research Culture: Virtual conferences raise standards for accessibility and interactions
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Conference demographics and footprint changed by virtual platforms
ANTES DO CONGRESSO
Quando você vai apresentar um pôster ou falar em uma conferência, tudo começa com o envio de um resumo com vários meses de antecedência. Quando você vai apresentar um projeto em que ainda está trabalhando, é bom escrever um resumo um pouco mais geral do que o trabalho final que vai apresentar no congresso.
Também é importante compartilhar o resumo -e um rascunho de seu pôster ou palestra- com tempo suficiente com as pessoas que são os autores do trabalho. Isso lhes dá a oportunidade de revisar o material e ajudar a melhorar a qualidade do trabalho e resolver quaisquer dúvidas ou problemas que você tenha.
Ao se preparar para um congresso também é importante pensar no público que verá sua apresentação. Não é o mesmo apresentar um artigo em uma conferência de aracnologia onde a maioria dos participantes está familiarizada com esses animais, do que em uma conferência de ecologia ou biologia da conservação. Isso ajuda você a refinar sua apresentação e garantir que aqueles que a assistem tirem o máximo proveito dela e que a participação deles o beneficie.
DURANTE O CONGRESSO
O programa de atividades de um congresso é muito completo, mas isso também pode torná-lo esmagador. Há muitas palestras interessantes (às vezes até ao mesmo tempo), muitos pôsteres para ver, palestras de alta qualidade… podem ser 8 horas de oficinas, eventos sociais e culturais e muito mais. Não entre em pânico, há tempo e você pode priorizar quais atividades mais lhe interessam. Às vezes é inevitável perder uma palestra que você queria ir. É melhor dormir, comer e se hidratar bem, e não correr pelo centro de conferências. Sempre haverá um momento para abordar ou escrever para os apresentadores e perguntar sobre as principais descobertas de suas pesquisas.
Também é aconselhável aproveitar as atividades do congresso para ouvir outros temas que não sejam a sua 'zona de conforto' ou os principais temas que lhe interessaram até agora e/ou nos quais você já está pesquisando.
Como a ciência é uma atividade em grupo, as pessoas nas reuniões se beneficiam com a apresentação de ideias e críticas construtivas. É bom aproveitar os espaços para tirar dúvidas, sugestões e comentários. Ninguém gosta de escutar perguntas maldosas, mas sim ouvir perspectivas diferentes.
É sempre bom perguntar proativamente. Recomendamos ter um “ás na manga” quando você não tiver uma pergunta específica. Você pode perguntar sobre as motivações do projeto, as principais dificuldades que tiveram e como as resolveram, e até quais partes mais gostaram. Isso pode ser particularmente importante para os alunos que estão começando, pois pode ajudar a aliviar a pressão para apresentar.
DEPOIS DO CONGRESSO
Muitas pessoas às vezes tentam manter contato após a conferência. Principalmente se eles tivessem conversas que pudessem levar a colaborações para artigos, projetos de pesquisa para coletar ou compartilhar dados ou para fins de estudo. Em nossa experiência, muitos projetos, intercâmbios e colaborações começaram em conversas informais em conferências, e manter contato tem sido muito útil.
PRÓXIMOS CONGRESSOS DE ARACNOLOGIA NA AMÉRICA LATINA
8 a 12 de agosto de 2022.
Jornadas Argentinas de Aracnologia.
Para ver atualizações sobre a conferência você pode segui-los nas redes sociais:
@jornadasaracnologia, @gias.arg
Facebook: III Conferência Argentina de Aracnologia, Grupo de Pesquisa Aracnológica do Sul - GIAS
5 a 11 de março de 2023.
Congresso Internacional de Aracnologia, Montevidéu, Uruguai.
Governo Municipal de Montevidéu, Centro de Montevidéu, Uruguai.
Poderá consultar mais informações através do email: 22ica.uy@gmail.com. Por favor, escreva no assunto 'DIFUSIÓN ICA' | Instagram: @22ica23 | Twitter: @22ica23 | Facebook: https://www.facebook.com/22ICA23
Haverá bolsas de estudo para estudantes latino-americanos. Mais informações posteriormente.
A hospedagem não estará inclusa no valor da inscrição.
Pode incluir apenas o modo presencial. As palestras principais serão transmitidas no YouTube.
2024 (no meio ou no final do ano).
Congresso Latino Americano de Aracnologia. Colômbia.
Certamente será organizado na costa caribenha; talvez em Santa Marta ou Cartagena. Acompanhe a página para atualizações: VII CLA https://viiclaracnologia.wixsite.com/viicla
Informações sobre bolsas de estudo em breve. Ainda não está definido se será apenas presencial, ou também virtual.
Houve um concurso para a elaboração do logotipo. 15 aplicações.
Haverá cursos pré-congresso.
Tem dúvidas ou deseja mais informações?
Estamos aqui para ajudar. Escreva-nos para red.aracno@gmail.com se quiser saber mais sobre a experiência de ir a congressos, obter financiamento para cobrir custos ou se tiver dúvidas mais específicas. Nosso twitter é @RAEL_aracno, e nosso Instagram é @rael_aracno.
Você está pensando em ir a um congresso específico e quer saber mais sobre a experiência? Contate-Nos! É muito possível que algum de nós tenha participado desse congresso, ou conheça alguém que possa nos contar mais.
Você também pode entrar em contato conosco se desejar suporte para materiais em inglês.
Resumo elaborado por Ignacio Escalante, Mariana Trillo, Nancy Lo Man Hung, e Franco Cargnelutti. Agradecemos imensamente as contribuições de Alfredo Peretti e Ligia Benavides.